sexta-feira, 29 de maio de 2009

Rebelião


Apolo y Marsyas
José de Ribera

Quando o deus veio me visitar hoje, na minha cova fria e úmida, fiquei de pé. Não deixei que me tomasse a cabeça, agarrei-me a Gaia mãe levantando-me e soprei a terra seca na névoa-luz que me envolvia. Ele tomou forma. Uma forma dourada como lhe convinha. Chamei-lhe pelo mais antigo nome que conheço, conjurando e assim lhe disse:


Chega de luz, de Sol, de rédeas áureas!
Chega de Apolo perfeito e reluzente, eu quero é Dioniso.
Escuridão.
Chega da solidão virginal do abismo...
Eu quero é Dioniso de frondosa mata.
Mistério, voluptuosidade e caos.
Chega de sacrifícios, prostração e devoção ao senhor.
Vaidoso deus.
Chega de tanto Apolo em mim.
Que te contentes em dominar minha forma.
Assim o quero!
Quero teu braço de deus a me fazer bela.
Mas não mereço ser escrava tua, toda tua...
Quero Dioniso!
Quero me entregar ao vago, impreciso e nebuloso.
Quero sentir todo o meu imenso poder, deitando com Dioniso.
É a mim que Dioniso invoca.
Chega de Apolo, chega!
Quero ser deusa também.
Chega Lobo de Sol!
Sou mortal é verdade, mas livre.
Vou ter com Dioniso de amplos e distraídos braços.
Vou viver sem nome.
Vá-te, deus Sol de louros e perfeitos cachos.
Vá-te, que hoje mesmo dormirei no Olimpo.
Não sou Eritréia!
Não quero seus anos.
Não sou Cassandra
Nasci já com olhos de fogo.
Sou mortal.
E agora eu quero é Dioniso.
Apolo então se foi. Até quando?

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