quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A pele que habito

Franz Von Stuck
Hölle

Há novos ratos no porão.
Sujo e escuro.
Insano e infinito.
Dos meus intestinos.
Meu estômago grita muito mais alto...
Que minha boca sem vergonha.
Ratos roem Roma, romeiros, romãs e romances inteiros.
Ratos obtusos.
Ratos no porão escuro.
Da minha doente mente.
Agora tenho medo do orvalho.
Agora tenho dentes no meu pescoço.
Ratos nos meus pés.
E culpa sufocante.
Na minha pele.
Como diria Almodóvar...
A pele que habito.
Caro é o brilho do sol.
Apolo...
E no fim... ratos roem tudo.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Para quê?

E de repente o desespero de estar viva bateu profundo.
E minhas pernas sumiram outra vez.
A cabeça coalhou.
E eu não tinha ninguém.
Então caí.
Sono Profundo.
Por dias e dias tombei. 
E sem um pingo de sua voz, a não ser a bêbada que me feriu ainda mais,
então querendo respirar...
Enfiei guitarras elétricas na minha pele.
E raios molhados na minha garganta.
E como múmia cansada a insistir na vida.
Me arrastei pelos paralelepípedos da Cidade Velha.
Esfarrapada e excêntrica.
Sozinha e firme, sem um pingo de lágrima.
E disse a mim mesma, outra vez me curei.
A custa de copos e copos.
E comprimidos para dormir.
Sou toda mesma Selvagem.
Selvagem.
Porque não admitir?
E assim sendo um bicho, tua crueldade tão gratuita, nesta terça tão azul, me assustou...
Faz um calor tão lindo por aqui.
E eu querendo falar com você.
Para quê?



sábado, 5 de setembro de 2015

Tu me fazes um mal necessário


Homem e Mulher
Pablo Picasso, 1929

A nota oficial do meu dia declara que você faz mal...
fazer o quê?
Tem um jegue reclamando aqui fora
e isso é real...
Você faz mal mesmo em que sentido?
O jegue é real!
Deixa-me mais louca?
Mais indecisa?
Mais violenta?
Ele grita sem sentido.
Ou seja... tudo que sou, caso nem queiras...
É o teu corpo que consome...
Tenho ganas infindas...
Porque reclamar?
Nada me deixa mais viva.
E acordada com os pássaros...
Do que a certeza de que você me odeia.
Raivosa e lânguidamente.
Raivosa e deliciosamente.
Venha oportunista.
Farte-se.