terça-feira, 31 de agosto de 2010

Se eu fosse perfeita dormiria cedo.


Toureiro Morto
1864 - Edouard Manet


Se eu fosse perfeita dormiria cedo, daria um bom nome de conto...
Agrada ao gosto também da poesia.


É fruta, na verdade, da vigília.


Tateio na escuridão procurando um interesse, e claro (rimando irresistivelmente?) nada ama, dissipas, foges.  
Mas a doença e a tristeza de nosso sono tanto tempo o mesmo,
mesma cama e banheiro,
permitiram minha insônia retumbante, e minhas pernas inquietas, e minha azia.
Meu peito estoura, levanto.

Se tu fosses novamente aquele outro...
Eu dormiria cedo?


Tateias na escuridão procurando fogo novo, e claro, encontras mais e mais do mesmo.
E a doença e a certitude de nossa pena comum, tanto tempo comum,
comum em meios e termos,
empurraram-te ao coma que nenhum dos meus cheiros é capaz de quebrar.
Tua respiração canta sinalizando que não o acorde.


Levanto, e aqui estou eu querendo novamente banhos de lava...
Abusando da língua portuguesa.

"Se eu fosse perfeita" é choramingo puro.
Poesia barata, pior tipo.
Daquela que resiste vazia.

2 comentários:

Mariana disse...

I

É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.

Voz e vento apenas

Das coisas do lá fora



E sozinha supor

Que se estivesses dentro



Essa voz importante e esse vento

Das ramagens de fora



Eu jamais ouviria. Atento

Meu ouvido escutaria

O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.

Porque é melhor sonhar tua rudeza

E sorver reconquista a cada noite

Pensando: amanhã sim, virá.

E o tempo de amanhã será riqueza:

A cada noite, eu Ariana, preparando

Aroma e corpo. E o verso a cada noite

Se fazendo de tua sábia ausência.



II

Porque tu sabes que é de poesia

Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,

Que a teu lado te amando,

Antes de ser mulher sou inteira poeta.

E que o teu corpo existe porque o meu

Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,

É que move o grande corpo teu



Ainda que tu me vejas extrema e suplicante

Quando amanhece e me dizes adeus.

A pitonisa disse...

Dioniso, onde estás que não respondes...