Toureiro Morto
1864 - Edouard Manet
Agrada ao gosto também da poesia.
É fruta, na verdade, da vigília.
Tateio na escuridão procurando um interesse, e claro (rimando irresistivelmente?) nada ama, dissipas, foges.
Mas a doença e a tristeza de nosso sono tanto tempo o mesmo,
mesma cama e banheiro,
permitiram minha insônia retumbante, e minhas pernas inquietas, e minha azia.
Meu peito estoura, levanto.
Se tu fosses novamente aquele outro...
Eu dormiria cedo?
Tateias na escuridão procurando fogo novo, e claro, encontras mais e mais do mesmo.
E a doença e a certitude de nossa pena comum, tanto tempo comum,
comum em meios e termos,
empurraram-te ao coma que nenhum dos meus cheiros é capaz de quebrar.
Tua respiração canta sinalizando que não o acorde.
Levanto, e aqui estou eu querendo novamente banhos de lava...
Abusando da língua portuguesa.
"Se eu fosse perfeita" é choramingo puro.
Poesia barata, pior tipo.
Daquela que resiste vazia.
2 comentários:
I
É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora
E sozinha supor
Que se estivesses dentro
Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora
Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria
O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza
E sorver reconquista a cada noite
Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:
A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.
II
Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu
Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.
Dioniso, onde estás que não respondes...
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