terça-feira, 31 de agosto de 2010

Vermelha

A beleza dos teus cabelos cadentes, teimosamente a enroscar em meus dedos, pêlos, suor, saliva...

Eu tiro-lhe da cabeça as estrelas e espero.

Cachoeira vermelha caindo em neve pura.

Sua face maçã quente a desmanchar em minha boca, língua, dentes, alma, gemido, lampejo!

É a porta, é a porta que nos acorda!!!
Volte criatura selvagem.
Volte a mim.

Se eu fosse perfeita dormiria cedo.


Toureiro Morto
1864 - Edouard Manet


Se eu fosse perfeita dormiria cedo, daria um bom nome de conto...
Agrada ao gosto também da poesia.


É fruta, na verdade, da vigília.


Tateio na escuridão procurando um interesse, e claro (rimando irresistivelmente?) nada ama, dissipas, foges.  
Mas a doença e a tristeza de nosso sono tanto tempo o mesmo,
mesma cama e banheiro,
permitiram minha insônia retumbante, e minhas pernas inquietas, e minha azia.
Meu peito estoura, levanto.

Se tu fosses novamente aquele outro...
Eu dormiria cedo?


Tateias na escuridão procurando fogo novo, e claro, encontras mais e mais do mesmo.
E a doença e a certitude de nossa pena comum, tanto tempo comum,
comum em meios e termos,
empurraram-te ao coma que nenhum dos meus cheiros é capaz de quebrar.
Tua respiração canta sinalizando que não o acorde.


Levanto, e aqui estou eu querendo novamente banhos de lava...
Abusando da língua portuguesa.

"Se eu fosse perfeita" é choramingo puro.
Poesia barata, pior tipo.
Daquela que resiste vazia.