sábado, 30 de maio de 2009

Tango

Amazona Ferida
Franz Von Stuck


O piano que chora em Paris-Texas, tango novo, Gotan Project

me lembra você...

Mon Die na voz de Edith Piaf

me lembra você...

As horas passam...

Você, você, você!!!!

Na minha cabeça sempre o sussurro...

Você!

És representação animada da robusta senhora Insanidade...

que me cavalga!

Triunfante.

Loucamente.

Carne e osso de um delírio.

Nuvem.

Névoa.

Poeira, ilusão.

Não existes!

Não existes!

Aquele que desejo...

Aquele que necessito...

Aquele que me ama, não existe!

Poeira.

Nuvem.

Névoa, ilusão.

Você, você, você!!!!

Me reconhecerá um dia?

Serei um dia por ti... arrebatada?

Um outro tango no ar...

Quando não se faz poesia

É preciso dormir!

Quando tu te ausentas...

É preciso dormir!

Vinicius me embala:

Pergunte pro seu Orixá o amor só é

bom se doer

Vai, vai, vai, vai


sexta-feira, 29 de maio de 2009

Rebelião


Apolo y Marsyas
José de Ribera

Quando o deus veio me visitar hoje, na minha cova fria e úmida, fiquei de pé. Não deixei que me tomasse a cabeça, agarrei-me a Gaia mãe levantando-me e soprei a terra seca na névoa-luz que me envolvia. Ele tomou forma. Uma forma dourada como lhe convinha. Chamei-lhe pelo mais antigo nome que conheço, conjurando e assim lhe disse:


Chega de luz, de Sol, de rédeas áureas!
Chega de Apolo perfeito e reluzente, eu quero é Dioniso.
Escuridão.
Chega da solidão virginal do abismo...
Eu quero é Dioniso de frondosa mata.
Mistério, voluptuosidade e caos.
Chega de sacrifícios, prostração e devoção ao senhor.
Vaidoso deus.
Chega de tanto Apolo em mim.
Que te contentes em dominar minha forma.
Assim o quero!
Quero teu braço de deus a me fazer bela.
Mas não mereço ser escrava tua, toda tua...
Quero Dioniso!
Quero me entregar ao vago, impreciso e nebuloso.
Quero sentir todo o meu imenso poder, deitando com Dioniso.
É a mim que Dioniso invoca.
Chega de Apolo, chega!
Quero ser deusa também.
Chega Lobo de Sol!
Sou mortal é verdade, mas livre.
Vou ter com Dioniso de amplos e distraídos braços.
Vou viver sem nome.
Vá-te, deus Sol de louros e perfeitos cachos.
Vá-te, que hoje mesmo dormirei no Olimpo.
Não sou Eritréia!
Não quero seus anos.
Não sou Cassandra
Nasci já com olhos de fogo.
Sou mortal.
E agora eu quero é Dioniso.
Apolo então se foi. Até quando?

terça-feira, 19 de maio de 2009

Indomada Heroína


“Meu prazer era intocável e aterrador. Inflava dentro de mim ao caminhar pelas ruas. Ele transpira, ele fulgura. Não consigo escondê-lo. Sou mulher. Um homem me dominou. Ah, que prazer quando uma mulher encontra um homem a quem consegue se sujeitar, o prazer de sua feminilidade expandido em braços fortes."



Anaïs Nin.
Diários de 1931-1932

Teria Judith sido por sua presa, ainda que por um segundo, dominada?

Teria Gustav Klimt assim considerado quando Judith nele encarnou? Ou teria ele somente imaginado e amado, o poder da rainha sentir prazer de caçador?

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Reminicência?

by John Cohen
1959

Dia 11 de maio passado, ainda na cama, dei de cara com Jack Kerouac na capa do caderno Ilustrada da Folha de São Paulo, sem ler nenhuma linha, comecei a chorar, descontroladamente, com soluços e grandes suspiros. Chorei por uma hora penso. Assim mesmo, sem mais nem menos. Nunca li Kerouac apesar de já ter sido atraída para ele antes, já havia Viajante Solitário na minha estante, secção LER.
Acontece que aquela imagem parecia me dizer: escreva, mesmo sendo uma vagabunda, mesmo que te digam que de nada importa e mesmo que acabem transformando teu tesouro em lixo. Escreva! Perceba como ele é lindo! Lindo!
Hoje resolvi me unir melhor à imagem, abri o Viajante e na apresentação do autor, feita pelo próprio, encontrei a seguinte confissão: “Sempre considerei escrever meu dever na Terra”.
Descobri que sempre o amei e os soluços daquele dia eram gritos de saudades.

O Servo de Salomé


“Ele diz que é servo meu.

Ele diz que é meu escravo.

Enquanto bate na minha cara.

Com força e doce insistência.

Como pode!?

Tão sincero cego...

Que acha que é Oráculo.

Que peca e se esconde.

Mas deixa estar,

deixa ele chorar e brincar ser servo meu.

Conheço o jogo.

É gozo depois da dor curta.

Lancinante.

Ah! Anjo da asa torta...

É no silêncio que te consumo...

Submissão.

Não desperte Herodes!

Dança Salomé, dança!”


quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sono e Vigília

Batsheba, 1912
Franz Von Stuck


"O fogo da tempestade

invade minha cama

enquanto sonho

me faz suar de medo

Quanto medo

e mar.

E desejo!

Para uma noite que é mesma.

Para dita noite... há tanto vazia.

Seria teu meu suor? Ou da palavra vadia?

Seria tua essa pulsão que me percorre tudo?

Que me suspende.

Que me ressucita antes que os escombros existam?

Que me provoca, sem vergonha, de dentro da jaula?

Não! Não!

É dela, a vadia!

Palavra vício!

Daquela puta também minha