terça-feira, 18 de outubro de 2011

Desejo

Faço poemas às 06:00 horas da manhã de um sábado para você sem perceber.
Lembro do teu cheiro e da quantidade de pêlos do teu antebraço.
E da luz que atravessou teu rosto quando vinhas em minha direção naquele inverno.
Foi nesse dia que eu soube que tua boca me perseguiria para todo sempre.


E, é claro, o gosto que nunca senti dela.
Adormeço e acordo todo dia sem qualquer perpectiva de esquecer da tua eletricidade.

Foi o betume dos teus olhos que me cobriu de aveludada memória.
Não importa o entorpecente que eu use.


Tua pele como creme de chocolate que fala gritando para o meu corpo todo.
Que sucumbe malicioso dominando a razão e o tempo.


Faço poemas às 06:00 horas da manhã de um sábado para você sem perceber.
Porque graças ao meu corpo que resolveu vir ao mundo para sentir tanto, mais tanto!
Tudo em você está comigo a hora que decido.

Embora nunca possa decidir quando dissipar o desejo.

Derivando à deriva, parte 1.

Não podes me cutucar sequer uma cutícula...
Não és sequer mais que algo branco e pálido.
Tecido morto, nada mais.

Tantas palavras inutéis e impensadas.
Tanta ofensa de minha parte.

Sou papoula e tudo, como as idéias que me povoam.
Corroem.
Carne e pólvora de festa.

Sou um micróbio excitado com tanta novidade.
Alegre, curioso.

Deixem-me vagar por suas bibliotecas.
Púrpura e tecido morto.Com cheiro de lavanda, nada mais.

Papôulas são para reis ou sacerdotes e eu...
Eu...
Sou apenas carne-papôula e púrpura-sede.
Sem grandezas de mil homens.

Deixe-me vagar pela Terra
Doce homem comum. 
E pelo corpo da Terra e por tudo.


Sou pássaro ancestral!
Livre.